Por Edson Vidigal*

Poucos sabem que fui candidato a deputado estadual nas últimas eleições. E isso porque não aceitei dinheiro de empresas, de partidos, e não fiz uma campanha rezando a cartilha do “manual dos pUderosos de plantão”. E a frase que mais ouvi e ouço até hoje é essa: “Assim você não se elege”.
Isto porque sou completamente intransigente em relação aos fins e aos meios pelos quais conduzo minha vida e minha atuação social e política.
Não comungo e nunca comunguei com a máxima, erroneamente atribuída a Maquiavel, de que “os fins justificam os meios”. Muito pelo contrário, sempre a combati. Acredito que cada porta leva a um cômodo diferente. De cada escolha ecoam consequências diretas e coerentes com cada ação.
A filosofia dos “puderosos de plantão” é “tudo pelo poder, a qualquer custo”. E dela advêm frases célebres, que cumprindo os vaticínios de Rui Barbosa, fazem os honestos se envergonharem de seu caráter.
Coisas como “primeiro preciso chegar ao poder, para depois poder ajudar a população”; “primeiro precisamos inchar o bolo, para depois podermos reparti-lo”; “sem espremer limões não se fazem limonadas”; ou até “na vida, é preciso passar por cima de todo mundo, nem que para isso seja preciso passar por cima de todo mundo”…
Me desculpem os políticos tradicionalistas que talvez até acreditem nisso, mas para mim isso tudo não passa de muita hipocrisia, muita demagogia, muita falta de vergonha na cara. Se, de fato, pretende-se mudar algo, não é fazendo o que se pretende combater que alguém alcançará algum êxito.
Não é mentindo para alguém que se convencerá esta pessoa a deixar de mentir. Não é roubando que se conseguirá acabar com os roubos. Não é jogando lixo nas ruas que se conseguirá que todos mantenham a cidade limpa. Em suma, é só pelo exemplo que se consegue mudar algo.
Quem muito fala e nada faz não passa de um hipócrita. Quem condena o outro e age igual não passa de um hipócrita. Quem condiciona algum trabalho a estar ocupando algum cargo público não passa de um hipócrita.
Quem de fato tem algo a contribuir, contribui, independente de ocupar ou não ocupar cargos ou funções públicas. Como cidadão mesmo. Quem de fato está imbuído de boas intenções, comprometido com algum projeto, fala não com palavras, mas com ações.
Dedico e sempre dediquei minha vida a tentar encontrar e resolver os problemas que levam aos abusos de poder político e econômico, que para mim se constituem nos verdadeiros problemas sociais, raízes de todos os demais. E muitos dos problemas que encontrei dizem respeito justamente ao processo eleitoral, quando são reforçados todos os laços que amarram representantes eleitos e interesses pessoais de todo tipo de parasitas sociais.
Não faz sentido me candidatar, me oferecer como opção para que eu possa representar uma parcela da população no parlamento, se, tendo consciência dos problemas que precisam ser combatidos, ao invés de combate-los, me associar a eles.
Se eu digo que não compro nenhum voto, me dizem que assim eu não serei eleito. Se eu digo que não pago nem ofereço nenhuma vantagem pessoal a nenhum líder comunitário, me dizem que assim eu não serei eleito. Se eu digo que eu não aceito dinheiro de nenhuma empresa, me dizem que assim eu não serei eleito. Se eu digo que eu não quero voto aliciado, fruto de currais eleitorais, que eu não quero votos ignorantes, mas apenas votos conscientes, me dizem que eu sou arrogante e prepotente, e que assim eu não serei eleito.
Pois bem, arrogância e prepotência é achar e pregar que nossa população não tem condições de votar consciente. Arrogância e prepotência é achar que nossos concidadãos são ignorantes e nunca serão capazes de entender a política e de votar com consciência. É achar que a política sempre vai ser esse promíscuo e nojento troca-troca de favores pessoais. Isso é que é arrogância e prepotência. Além de ser, também, hipocrisia, demagogia e a mais rasteira ignorância.
Digo, repito e repetirei quantas vezes forem necessárias: Um político sério não deve querer votos ignorantes. Apenas votos conscientes. E quem achar que isso é arrogância, que vote em alguém que queira votos ignorantes. Que queira se eleger a qualquer custo. Que deseje e sonhe com o poder, não importando o preço que se tenha que pagar por ele.
Eu (quem me conhece sabe bem isso) estou pouco me lixando para o poder, para os puderosos e para todos os papagaios de pirata que orbitam como moscas as suas pobres cabecinhas pequenas.
O objetivo de um político sério deve ser tentar ajudar a levar empoderamento aos cidadãos que foram excluídos de nossa sociedade, que foram jogados à margem das decisões políticas, da distribuição dos benefícios de um Estado democrático. Tentar agregar as pessoas, para que juntas, sejam muitas, e possam impor o seu respeito àqueles que abusam do poder político, que não é seu, mas sim de todos nós.
O conhecimento e o esclarecimento são ferramentas democráticas imprescindíveis ao exercício da cidadania e às efetivas garantias dos direitos constitucionais de todos os cidadãos. Se o preço a pagar por dar o exemplo e fazer o que é certo é não me eleger,  fico tranquilo em não estar eleito.

#‎juntossomosmuitos‬. É pra avançar!

* Edson José Travassos Vidigal foi candidato a deputado estadual nas últimas eleições e por convicção política, de forma intransigente, não aceitou doações de empresas. É advogado membro da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB-DF, professor universitário de Direito e Filosofia, músico e escritor. Especialista em Direito Eleitoral e Filosofia Política, foi servidor concursado do TSE por 19 anos. Assina a coluna A CIDADE NÃO PARA, publicada no JORNAL PEQUENO todas as segundas-feiras.

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